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O que a maturidade (e a internet) me ensinaram

Sempre pensei que o envelhecimento pode ter seus benefícios, embora algumas pessoas talvez não percebam isso. Sim, envelhecer pode trazer cabelos brancos, rugas, ganho de peso e uma memória que não é mais tão boa, mas, ao mesmo tempo, o passar dos anos nos traz algo único e precioso: a maturidade. E maturidade, para mim, significa sabedoria. “Se tivéssemos o poder de voltar no tempo, ninguém jamais cometeria erros”, foi o que eu disse a uma amiga minha alguns dias atrás, quando ela se questionava sobre uma decisão que havia tomado no passado. Eu disse que ela tinha tomado a melhor decisão que podia, sabendo o que ela sabia naquela época. E perceber isso também faz parte de ser maduro. Nós só sabemos o que sabemos e nossas decisões são as melhores no momento em que as tomamos – porque não não sabemos sobre o futuro.

E a maturidade faz você perceber isso. Ajuda você a aceitar coisas que não pode mudar – como seu passado – e também a ser gentil com seu eu do passado. Sim, é difícil não se julgar, mas é como dizem: você sempre aprende algo com seus erros. Essa é a beleza de estar vivo. Você sabe que está evoluindo quando realmente aprende com as decisões “erradas” que tomou. Poderíamos chamá-las de “arrependimentos”, mas arrependimento é uma palavra forte.

Eu tive muitos fracassos na minha vida. Acredito que um dos maiores foi – e, às vezes, ainda é – se importar demais com o que as outras pessoas pensam de mim. Sempre dei valor aos conselhos de minha família e amigos. Mas não sei exatamente por que, sempre me importei muito com o que as outras pessoas pensavam de mim também – pessoas que não são necessariamente minhas amigas ou próximas. Essa tendência só piorou quando comecei a criar conteúdo na internet.

Uma coisa que você tem que aprender sobre mim é que sou uma pessoa muito prática. Talvez para os americanos isso não seja difícil de entender, mas os brasileiros às vezes são acostumados a ser gentis demais para dizer alguma coisa. Veja bem, não sou mal educada – meus pais sempre me ensinaram como ser educada e tratar bem as pessoas, mas, infelizmente, mulheres como eu costumam ser vistas como agressivas. Por muito tempo, tive que ler comentários maldosos sobre mim – dizendo que eu era “muito rude”. As pessoas apenas esperam que eu aja de uma maneira super fofa, sempre me desculpando e, quando não me comporto da maneira que eles querem, eles me chamam de rude. Não me lembro quantas vezes chorei e me culpei e, o pior: tentei ser alguém que não sou. Felizmente, depois de muitos anos fazendo terapia, percebi que não preciso mudar minha personalidade para agradar às pessoas que nem mesmo me conhecem. E também, que eu nunca vou agradar a todos, então, será que não é apenas mais fácil viver do meu jeito?

Trato as pessoas com respeito – e espero ser tratada da mesma forma. Nunca vi homens se esforçando demais para agradar a alguém. O que as pessoas chamam de “rude” no comportamento das mulheres é simplesmente “normal” para os homens. Portanto, o problema não é o comportamento – é o que as pessoas esperam das mulheres. Outra coisa que me dei conta, principalmente na internet, é que: o que um estranho pensa de mim não me transforma no que ele acha que eu sou. Vou repetir: o que um estranho pensa de mim não me transforma no que ele acha que eu sou. Eu sei quem eu sou. E também sei que as pessoas vão me amar por um motivo, e outras pessoas vão me odiar pelo mesmo motivo. Então, por que tentar ser alguém que agrada a todos e esquece de si mesmo?

Como estou ciente desse comportamento clássico – pessoas dizendo coisas desagradáveis ​​sobre mulheres e aplaudindo homens – fica mais fácil para mim identificar quando alguém está agindo assim. Outro dia, um cara escreveu algo em letras garrafais e quando eu respondi e não tentei ser fofinha na minha resposta, ele me disse que eu era rude com meu público e que precisava me acalmar. Veja, esse cara deixou um comentário em caixa alta, super mal educado e aí, quando eu respondi pra ele, eu era a menina má. E eu odeio quando as pessoas me pedem para me acalmar quando não estou com raiva. As pessoas não podem apenas confundir raiva com assertividade. Em outra ocasião, alguém com um perfil falso, veio do nada e começou a escrever coisas ruins sobre mim. Uma das coisas era: “Não sei como seu marido aguenta você”. Viu? Mais um dia, mais um comentário machista, mais uma pessoa tentando fazer as mulheres se sentirem mal.

Depois desse comentário, não pude deixar de pensar: por que essa pessoa estava me seguindo? Ela mencionou coisas de 6 meses antes e parecia realmente me odiar. Por que você continua seguindo alguém de quem não gosta? Bom, depois de 6 anos fazendo terapia, tenho certeza que se incomodo tanto essa pessoa é porque ela se importa muito. É porque, no fundo de seu coração, ela está tem alguma inveja. É sobre ela. Quando você realmente não se importa, não perde seu tempo.

Outra coisa que rfleti sobre esse episódio foi como as pessoas não percebem sua própria covardia. Usar um perfil falso, sem nomes reais, sem fotos reais, para dizer coisas desagradáveis ​​para alguém não te torna um fodão. É realmente o oposto. Esconder-se na internet para ofender as pessoas é fácil – o que é realmente difícil é lidar com suas próprias falhas. Quando você não consegue fazer isso, você joga essas coisas para outras pessoas na internet (ou até mesmo as pessoas próximas de você). Que triste. E ela até disse que poderia falar o que quisesse só porque eu tenho um perfil público. Bem, não vou nem começar a falar sobre limites e respeito. Preciso realmente dizer que ter um perfil público não dá às pessoas o direito de escrever o que quiserem?

Por último, mas não menos importante, não consegui parar de pensar no comentário “Não sei como seu marido a aguenta”. Novamente, as pessoas colocam os homens em um pedestal. Como se ele fosse um anjo, e e eu fosse um demônio. Como se ele estivesse me fazendo um favor. Tipo, porque você me odeia, ele deveria me odiar também. Eu poderia estar em um relacionamento tóxico e ele poderia ser um cara abusivo. Mas as pessoas pensam que sabem mais porque te seguem na internet. Para constar: ele não é. No entanto, ele me aguenta da mesma forma que eu o aguento, ambos com defeitos e qualidades.

Muita gente me diz que eu não devo perder meu tempo com esses comentários. Que eu não deveria me importar. Eu não me importo. Na maioria das vezes, isso não me afeta. Uso esses comentários como experimentos sociais e gosto de analisar como as pessoas se comportam na internet. Ao mesmo tempo, sinto que estamos sempre desculpando esses comportamentos e fico revoltada com isso, porque simplesmente não é justo. Isso é o que me irrita. Não se trata de palavras. É sobre a audácia. Essas pessoas são tão audaciosas que até ameaçam você: estou deixando de seguir você (porque você não está agindo da maneira que eu quero).

Bem, veja só. Rede social não é aeroporto, então não precisamos anunciar nossa partida. Vamos nos concentrar em seguir pessoas que fazem a gente se sentir bem. E se você continua seguindo alguém que só te irrita, talvez você seja um masoquista ou apenas precisa de terapia. Let it go.


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