Blog da Laura Peruchi – Tudo sobre Nova York
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Estive pensando sobre nós, Nova York…

“Era verdade que Nova York te passava uma certa resistência que fazia você pensar que poderia lidar com todas as formas de dificuldade.”  – Janet Steen

Esta é uma citação do livro Goodbye to All That – Writers on Loving and Leaving New York.  Já faz um tempo que comprei este livro – uma seguidora deixou uma recomendação sobre ele em um de meus posts aqui no blog, e a descrição dela foi o suficiente para me fazer comprá-lo. Confesso que o livro meio que me intrigou. Ele reúne 28 crônicas de escritores e suas histórias de amor e ódio pela cidade. Essas pessoas são “expatriados” de Nova York. Alguns deles ainda sentem falta da cidade, alguns deles não se arrependem de suas decisões. Ler cada uma dessas crônicas me fez pensar sobre minha própria relação com Nova York.

Não sei exatamente por que, mas sempre fui uma pessoa ambiciosa. Eu sou de uma pequena cidade no sul do Brasil, e sempre tive em mente que moraria em uma cidade grande. Eu nunca planejei morar em Nova York – mas planejava viver intensamente. E, para mim, viver intensamente incluía morar em uma cidade grande. Primeiro, pensei que seria a capital do meu estado (Florianópolis) – que não é tão grande, mas, sabe, para quem vem de uma cidade com 7 mil habitantes, qualquer lugar pode ser enorme. Então, fiz minha primeira viagem internacional, e meu namorado e eu começamos a desejar uma experiência no exterior. Sempre pensamos que iríamos morar na Europa – mas o destino nos trouxe para Nova York.

Lembro-me de quando visitei a cidade pela primeira vez. Muitos brasileiros sonham em viajar para os Estados Unidos – a maioria deles quer ir para a Disney, em Orlando. Outro grupo cresce com essa conexão com Nova York – e isso porque a cultura americana faz parte de nossas vidas por meio dos filmes de Hollywood. Já ouvi relatos de dezenas de seguidores que se apaixonaram pela cidade por causa de Esqueceram de mim ou Sex and the City. Não é o meu caso. Eu nunca tive esse desejo louco de viajar para os EUA. Eu nunca sonhei em visitar Nova York. Eu sabia que era um lugar legal, mas acho que nunca tinha prestado atenção suficiente. Meu sonho era visitar Paris e Londres, e fiz isso, e fiquei feliz. Não sei se teria planejado uma viagem à Big Apple se não fosse pelo meu namorado, que fez uma viagem de trabalho para a cidade e me convidou para ir com ele. Hospedagem grátis, o lugar parecia bacana, por que não? Eu não sabia, mas aquela viagem mudaria minha vida para sempre.

Para mim, Nova York não foi um amor platônico. Não amava a cidade antes de chegar aqui, como acontece com algumas pessoas. Mas foi, de fato, amor à primeira vista. Nunca me apaixonei por alguém assim – mas me apaixonei por esta cidade. Foi intenso. Eu disse ao meu namorado: “Você tinha que arrumar um emprego aqui”. Nem em meus sonhos mais loucos eu teria imaginado que seria tão rápido. Para encurtar a história, cinco meses depois dessa viagem, nós mudamos para Nova York de vez. Meu agora marido havia conseguido um emprego aqui e deixamos nosso país, nossas vidas, nossas famílias, nossos amigos e tudo o que era familiar para começar uma nova vida.

Desde o início da minha relação com a cidade – agora como residente e não como turista – eu fui uma amante dedicada. Encontrei um milhão de razões para amar este lugar e sempre dizia às pessoas porque esta cidade era tão incrível para mim. Eu acho que minha versão mais jovem finalmente encontrou o que ela sempre buscava, mas não sabia o que era. Era isso: tantas opções, tantas oportunidades, tantas descobertas, tantos lugares, tantas pessoas. Não, eu não tive uma lua de mel com Nova York – na verdade, esta cidade me deu socos na cara desde o início. Você pode até dizer que seria como um relacionamento abusivo, mas acho que não. Acredito que crescemos ao sair da nossa zona de conforto. Nova York me inspirou a ser uma versão melhor de mim mesma, a perseguir meus sonhos mais intensos. Sempre tive essa analogia em minha cabeça: a cidade era meu combustível para continuar – mesmo quando às vezes tudo que eu queria fazer era desistir.

Mas, depois de 7 anos morando aqui – e depois de passar por uma pandemia neste lugar – eu percebi algumas coisas não tão legais sobre a cidade. Sim, eles dizem que “se você faz acontecer aqui, você pode fazer acontecer em qualquer lugar”. Isso pode ser verdade. Mas tem um preço. Hoje, vejo que a mesma cidade que te impulsiona a dar o teu melhor é a mesma que te demanda. Não é fácil. É difícil. Respiramos competição. Sentimos a pressão. Sentimos o cheiro do medo – às vezes. Para morar em Nova York, você precisa entender como administrar a inspiração e a competição; os fracassos e as vitórias; o desejo e o medo. Bem, parece que a vida é assim, certo? Verdade. Não dá pra negar isso. Mas em Nova York, os riscos são mais altos. Muito mais altos.

Ao mesmo tempo em que escrevo isso, percebo que quando falo sobre a cidade, falo sobre mim. Sim, estou descobrindo coisas boas e ruins sobre este lugar, e também estou aprendendo coisas sobre minha própria vida. Tenho me sentido desconfortável. E confusa. Não sei a resposta para muitas perguntas. E descobri que, como acontece com a cidade, posso ter muitas versões de mim mesma e estou tentando descobrir qual versão gosto mais. Acho que estou crescendo – e sim, crescer é maravilhoso, mas, meu Deus, como dói.

Você pode estar pensando que esta é minha carta de despedida para Nova York. Não, não é. Por enquanto, não é. Por hoje, não é. Ainda não é. Eu ainda te amo, Nova York. Provavelmente vou te amar para sempre. Para ser honesta, não consigo me ver fora daqui. Acabei de me dar conta de alguns fatos. Nosso relacionamento agora está mais maduro. É como qualquer outra história de amor: tudo começa com muita paixão – e somos quase cegos. Agora, posso ver seus defeitos. Você não é perfeita – de forma alguma. Mas eu escolho estar aqui, para o bem ou para o mal.

Sim, eu sei: nunca diga nunca, certo? Talvez um dia isso possa ser uma despedida.


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