Blog da Laura Peruchi – Tudo sobre Nova York
lifestyle

7 documentários e séries para descobrir outras facetas dos Estados Unidos

Faz pouco mais de 6 anos que eu moro nos Estados Unidos. Sempre morei em Nova York e nunca escondi o quanto sou grata por ter tido essa oportunidade – se você não conhece a minha história, fica o convite para você escutar o meu podcast LET’S TALK NEW YORK. Aqui em Nova York eu me reinventei, eu tive oportunidades que talvez eu nunca fosse ter no Brasil. Tem aspectos melhores e outros nem tão legais na vida aqui, mas, isso faz parte da nossa existência: não existe lugar perfeito no mundo, especialmente para um imigrante.

Durante todo esse tempo, fiz parte do sonho de muitas pessoas que visitaram Nova York, que usaram minhas dicas e conselhos para planejar uma viagem. Nunca escondi os meus sentimentos pela cidade. Mas, a gente sabe que os contos de fada só são realidade nas histórias já um tanto ultrapassadas da Disney. Por muito tempo, eu tive uma visão bem romântica da cidade, confesso, mas, principalmente durante a quarentena, eu tenho tomado mais consciência do meu papel como residente aqui. E acho que isso é essencial quando moramos num lugar: a gente tem que tentar conhecer esse lugar a fundo – e isso inclui seus defeitos também. Não dá pra gente viver numa bolha – e acredito que quanto mais conhecimento temos, mais senso crítico desenvolvemos. Nem que seja para nos dar conta dos nossos próprios privilégios.

Do ano passado pra cá, assisti muitos documentários que trouxeram uma nova visão a respeito não só dos Estados Unidos, mas também sobre a cidade de Nova York. E, como quem me acompanha sabe que eu adoro desromantizar a vida no exterior, aí vai a minha lista de sugestões de documentários e séries para você conhecer outras facetas dos Estados Unidos:

1. Living Undocumented – Realidade Não Documentada | Netflix – é uma série documental com seis episódios e tem Selena Gomez como produtora executiva. Ao longo desses seis episódios, conhecemos a história de oito famílias de imigrantes sem documentos em diversas partes do país, enquanto enfrentam um potencial processo de deportação. São pessoas de diversas partes do mundo, com diferentes passados, diferentes motivações, que viram os EUA como uma oportunidade de vida nova. As histórias são angustiantes, dolorosas, algumas esperançosas e expõem o defasado sistema de imigração americano. Para mim, foi um tapa na cara. Sempre tive sentimentos confusos sobre imigração ilegal. Essa série documental me mostrou que não dá pra gente colocar todo mundo no mesmo barco. Que não, nem todo mundo tem as mesmas chances ou as mesmas oportunidades. Nem todo mundo faz as coisas por malícia. E que o sistema de imigração americano precisa de uma reforma pra ontem. Aliás, aprendi muito sobre isso. Eu sempre achava que deportação era algo instantâneo e a série mostra que não é bem assim. Tem várias participações de especialistas no assunto também. Enfim, só vejam.

2. Crime + Punishment | Hulu – documentário original do Hulu, serviço de streaming como o Netflix. Sei que não está disponível ainda no Brasil, mas fica a dica para quem mora nos EUA. Ele mostra um lado que nunca imaginei existir sobre o funcionamento da NYPD – New York Police Department. Em 2010, a cidade de Nova York baniu a política de cotas de detenções e intimações. Sim: policiais tinham cotas a serem cumpridas – só me explica COMO? Só que em 2015, um grupo de 12 oficiais da NYPD entrou com uma ação coletiva contra a NYPD, alegando que a prática continuava. Ao longo da narrativa, o documentário também narra a vida desses policiais e expõe o quanto as jovens minorias – leia-se negros e latinos – acabam sendo as maiores vítimas desse esquema inaceitável. É um policiamento nocivo que escancara o quanto o racismo e o preconceito são problemas estruturais na sociedade americana.

3. Class Divide | HBO – (disponível também para alugar no Youtube, Amazon Video, Google Play e iTunes) – esse documentário é sensacional e ajuda a desconstruir um pouco da visão romântica sobre Nova York. Através de um exemplo central, mostra o lado triste do fenômeno da gentrificação. Para quem não sabe, gentrificação é o processo de revitalização dos espaços urbanos ou a aparente substituição de paisagens de caráter popular por construções típicas de áreas nobres. Trata-se de um processo em que o espaço geográfico urbano transforma-se e ressignifica-se, sobretudo em função da valorização acentuada e do enobrecimento de uma área antes considerada periférica. No exemplo central do documentário, temos a Avenue, uma escola particular de classe média alta,, cujo custo anual é de U$45000 por aluno. Localizada no Chelsea, essa escola está pertinho de um project, os conjuntos habitacionais para moradores de baixa renda. Nesse project, há milhares de residente, muitos deles vivendo abaixo da linha da pobreza. A escola é apenas um exemplo de como o Chelsea foi transformado. O High Line Park, amado pelos turistas, é um desses exemplos. O que era antes uma linha de trem abandonada  se transformou em um parque público muito popular, que transformoua área numa das mais valorizadas da cidade.  Nessa onda, quase 40% das residências foram vendidas para clientes estrangeiros ou anônimos, e o aluguel médio dos apartamentos do Chelsea aumentou quase dez vezes mais rápido que Manhattan como um todo, expulsando muitos que não podem se dar ao luxo de acompanhar. O tal progresso que traz novos parques, por exemplo, também manda embora muitas pessoas que não têm condições de pagar pelo preço desse mesmo progresso. O documentário explora bastante isso! Bem interessante pra gente perceber que a desigualdade social também existe aqui e é cruel.


4.  Sicko & Escape Fire (ambos disponíveis para aluguel no Youtube, Amazon Video, Google Play e iTunes) – se você tem acompanhado o blog e o canal nos últimos dias, provavelmente viu que eu fiz uma pesquisa ampla sobre o sistema de saúde americano. Depois de pouco mais de 6 anos morando aqui, sem entender nada como os seguros de saúde funcionavam e me frustrando com os pagamentos confusos, eu me senti incentivada a pesquisar sobre depois do número de questionamentos que recebi sobre por conta da pandemia. E esses dois documentários são excelentes para quem quer compreender mais. Sicko, do amado e odiado Michael Moore, é mais antigo, da era pré-Obamacare e mostra como o sistema conseguia ser mais cruel do que é hoje, negando cobertura pessoas com condições pré-existentes. Tirando essa parte, o resto do material é bastante preciso e esclarecedor. Michael viaja para o Canadá, França e UK e também mostra como um sistema de saúde gratuito e universal funciona em outros “países de primeiro mundo”. Escape Fire é mais atual e, da mesma maneira, expõe os problemas do sistema de saúde americano. Os dois documentários têm ritmos diferentes, mas se complementam e são essenciais para quem quiser entender mais sobre o tema.

Confira também: 

5. Super Size Me 2: Holy Chicken (disponível para aluguel no Youtube, Amazon Video e Google Play) – quem não lembra de Morgan Spurlock que causou em 2004 ao ficar um mês comendo apenas fast food? O resultado do experimento é o documentário premiado Super Size Me. Neste novo documentário, Spurlock volta a criticar o mercado de fast food: ele viaja pelo país para fazer pesquisas de mercado, investigando a indústria e trazendo informações cômicas (se não fossem trágicas) sobre a propaganda sedutora usada pelas gigantes do fast food. Spurlock resolve abrir seu próprio restaurante e, ao construir o seu business: desde comprar sua fazenda de frangos até sua estratégia de propaganda, ele também vai expondo as falhas e os problemas dessa indústria. Os destaques ficam para os monopólios cruéis que controlam os criadores de frango dos EUA, onde pequenos fazendeiros são quase tão vítimas quanto o consumidor que é seduzido por pontos de venda, discursos e até manipulação de alimentos para levar à crença de que está comendo algo saudável. Isso sem contar a crueldade que envolve a criação de frangos e termos que a gente compra como algo bom, como “cage free”(criado solto), “natural” e “sem hormônios”.

6. The Bleeding Edge -| Netflix – ok, apesar de o sistema de saúde americano ser um fracasso no quesito de não focar em prevenção e não ser inclusivo – ele é, em tese, tecnologicamente um dos mais avançados do mundo. Entretanto, as intervenções médicas se tornaram a terceira principal causa de morte, e a esmagadora maioria dos dispositivos implantados de alto risco nunca exige um único estudo clínico. Esse documentário expõe uma indústria de gadgets, dispositivos e implates supostamente criados para o bem, mas que, por falta de estudos, pesquisas e testes suficientes, são aprovados, colocados no mercado e causando consequências sérias e comprometedoras para pacientes que acreditaram em suas promessas revolucionárias. Poucas pessoas sabem sobre a indústria de dispositivos médicos e o fato de ser ainda menos regulamentada que a indústria farmacêutica. É revoltante.

When They See Us | Olhos que condenam | Netflix –  essa série de quatro episódios é baseada na história real do famoso Central Park Five – caso de cinco adolescentes negros do Harlem condenados por um estupro que não cometeram. A minissérie em quatro partes reconstitui a trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise, dos primeiros interrogatórios em 1989 à absolvição em 2002 e o posterior acordo de indenização com a prefeitura de Nova York em 2014. Vale assistir também o especial com os cinco personagens reais com a Oprah. Esse seriado é tão forte, tão intenso, tão triste e revoltante, mas ao mesmo tempo tão necessário! Outra produção que expõe o quão cruel a sociedade pode ser com você quando a cor da sua pele não é branca. Sabe o que me dói? É que dinheiro nenhum recupera o tempo perdido desses jovens e dinheiro nenhum cura o trauma que eles viveram.

Espero que vocês tenham curtido essas indicações. Aguardo comentários de vocês após assistirem!


1 comentário

  1. Assisti When They See Us depois de ver sua recomendação. Mto obrigada pela indicação, deveria ser obrigatório todo mundo assistir. É de cortar o coração de ver uma sociedade tão excludente e injusta. Admiro seu trabalho Laura, parabéns!

Leave a Response