Blog da Laura Peruchi – Tudo sobre Nova York
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Morar fora e aquele aperto no peito…

Dia 3 de janeiro eu completei três anos morando em Nova York. “Mas já?”. Já. Eu sempre quis morar fora e lembro que sempre pensava que um ano não seria suficiente. Um ano seria muito pouco para morar fora. Agora já completei três anos e ainda sinto que ainda tenho tanta, mas tanta coisa para fazer… A vida passa rápido demais, o tempo passa rápido demais. O ano acabou de começar – mas quer apostar que num piscar de olhos estaremos na Páscoa e em mais outro piscar de olhos será metade do ano? Pois é.

Neste momento, estou no Brasil. Vim passar as festas de fim de ano com a família. Fazia um ano que não vinha pra cá – e foi o período mais longo que fiquei sem voltar à terrinha. Nestes três anos morando fora, foram muitas viagens para o sul do mundo (sou de Santa Catarina) e assim como não muda o cheirinho de casa e a comida de mãe, também não muda a angústia que aperta o meu peito toda vez que o dia de embarcar de volta vai se aproximando. A gente até conversa com aquelas amigas que moram fora há mais tempo que você pra ver se há uma luz no fim do túnel. “Com o tempo, vai ficando mais fácil”, a gente pensa. Mas aí as amigas te informam que não – não importa se faz 5 ou 10 anos – despedir-se da família nunca vai ser tarefa fácil. Para ajudar, parece que o relógio decide andar ainda mais rápido nos dias que antecedem o embarque e aí haja coração mesmo para aguentar o aperto. Aperta tanto que chega uma hora que não tem jeito mesmo – tem que colocar pra fora, seja chorando escondida ou na sala de espera do aeroporto.

Eu sei que a essa altura do campeonato pelo menos meia dúzia de vocês já está pensando que “você tem sorte” ou “menina, você tá voltando para Nova York” ou “aproveita porque o Brasil tá de mal a pior”. Realmente, eu me sinto muito privilegiada pela oportunidade que eu tenho de morar nos Estados Unidos, numa cidade tão maravilhosa como Nova York. Esse caminho que percorri até aqui me trouxe muitas coisas boas: uma mudança no foco do blog que só me proporcionou bons resultados, uma rede de networking maravilhosa e outros tantos projetos e trabalhos que desenvolvi ao longo desses anos – sem contar todas as experiências que pude viver, lugares que pude conhecer e até mesmo os pratos que provei. Morar fora abre sua cabeça para tantas coisas e sua visão de mundo expande de um jeito incrível – acho que todo mundo deveria ter essa chance, nem que fosse por um mês na vida.

Já falei inúmeras vezes que, como tudo na vida, morar fora também tem o seu lado ruim. Você provavelmente já ouviu várias histórias de sucesso de estrangeiros no exterior, mas não dá para ignorar tudo o que se passa para alcançar o sucesso – e nem todo mundo que mora fora atinge seus objetivos. A barreira da língua, o preconceito, a xenofobia, as diferenças culturais – morar fora é vencer pequenas batalhas todos os dias. Desde conseguir atender ao interfone e entender tudo que a pessoa está falando até conseguir se comunicar com o médico e explicar o que você está sentindo, descobrir o equivalente daquele produto no supermercado ou até mesmo ajudar alguém que está perdido no metrô. Todas essas situações seriam muito normais e corriqueiras se eu estivesse no Brasil – mas não quando se está num país diferente. A verdade é que assim como a vida fora é muito intensa é preciso lembrar que a vida no lugar onde você morava continua. Pessoas morrem, pessoas casam, comemoram aniversários, celebram suas formaturas. E você vai perder vários desses momentos. Claro que você também vai criar outras situações – vai fazer amigo secreto com as pessoas que cruzaram seu caminho e também vai receber esses amigos na sua casa para celebrar o Dia de Ação de Graças. Você vai começar cultivar cada vez mais aquele sentimento de estar em casa. Mas vai sempre faltar um pedacinho na sua vida.

O ano de 2016 foi bem cruel com o mundo. A gente viu tanta coisa ruim acontecer, tantos episódios de intolerância, tantas vidas que se foram num piscar de olhos. Por isso que eu valorizo tanto esses momentos no Brasil, perto da minha família – e dos amigos que deixei aqui. E olha que as passagens para esta época estavam caríssimas. Só que, em certas coisas, a gente não deve economizar. Nós temos o costume de achar que estamos com tudo sob controle. Planejamos a nossa semana, aquela viagem para daqui a dois meses, já pensamos sobre o próximo Natal, combinamos um almoço no feriadão, imaginamos a vida daqui a 10 anos. Mas a verdade é que a gente não controla nada. Acho que é bom para o ser humano pensar que está no controle – afinal, também não dá pra viver prevendo o futuro, né – porém, é bom ter um dedinho do pé no chão. Às vezes, eu acordo no meio da noite e penso nos meus pais e dói, dói bastante saber que não estamos perto. Dói saber que a distância é grande. Obviamente que tudo é amenizado com a tecnologia, mas claro que o Facebook, o Skype e o WhatsApp não substituem abraços. Eu tenho uma relação com meus pais – principalmente com minha mãe – que talvez não seja igual a de muita gente. E aí a gente vive esses dias no Brasil de uma forma tão intensa – como era antes de sair do Brasil – que a cada despedida é um mini-luto, como se você estivesse revivendo aquela sensação de ir embora pela primeira vez.

Se o aperto passa? Passa, claro. Mas morar fora é viver eternamente com essa dualidade de sentimentos… É viver intensamente numa cidade maravilhosa – mas sempre cultivando aquela saudade das pessoas que não estão pertinho. É aproveitar ao máximo o seu tempo no Brasil – e mantendo aquele amor pela sua casa que está longe. Eu tento me equilibrar assim…


3 Comentários

  1. Adoro seu Blog, conheci pesquisando algo sobre NY no Google e foi um grande achado, tenho lido seus posts e acompanhado o grupo no Facebook. Como estarei na cidade em março tem me ajudado demais, todas as coisas que quero saber pesquiso aqui.
    Foi um grande orgulho saber que és catarinense como eu. Nossa terrinha é abençoada mesmo.
    Parabéns pelo seu trabalho e volte sempre para a nossa bela Santa Catarina. 😉

  2. Eu morei um tempo em Dallas. Nos primeiros meses achava maravilhoso, tudo diferente. Mas depois você vai cansando e o coração aperta. Era sempre o mesmo sentimento que, bem descrito no seu texto, me assolava. A sensação de estar perdendo os preciosos momentos com a família e amigos. Eu, por muitas vezes, evitava o contato de voz, porque assim parecia ser pior. Sem muito contato eu “esquecia” e seguia em frente. Depois de um tempo retornei à Belo Horizonte. Eu sempre gostei de viajar e de estar em contato com diversas culturas. Estive na Califórnia por 15 dias recentemente, apenas de passeio e, confesso, que bateu uma vontadezinha de ficar alguns meses. O ideal seria ficar alguns meses em algum canto do mundo e retornar ao Brasil para ficar a maior parte. Mas é algo para poucos, para quem vive de renda que não vincule somente um local. No fim das contas percebi que o melhor a se fazer é buscar os caminhos no próprio país, próximo de sua gente, mas nunca deixando de viajar e sentir outros cantões. É aquele velho clichê de que jamais deixaremos de ser estrangeiros em outro país, por mais imerso que você esteja da cultura local. No mais, desejo serenidade e sucesso para você nessa maravilhosa capital do mundo. Que seu caminho seja iluminado. Grande abraço. Lucas C. Fidelis.

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