Blog da Laura Peruchi – Tudo sobre Nova York
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Morar fora e o sentimento de estar só de passagem

Outro dia, estava lendo o livro Nova York – do Oiapoque ao Chuí –  indiquei aqui no blog; traz histórias de brasileiros na cidade – e uma citação me chamou a atenção. Não apenas um dos entrevistados, mas vários, falaram sobre o sentimento de estar eternamente de passagem por aqui. E eu me peguei pensando sobre isso.
Quando as pessoas me perguntam sobre minha vida aqui, não é raro que uma das questões seja: você quer ficar em Nova York pra sempre? A minha resposta é sempre a mesma: hoje, eu não quero ir embora. Mas, como diz aquela velha máxima, nunca dica nunca. Hoje, agora, neste exato momento, não tenho pretensão de voltar a morar no Brasil. Mas isso sou eu hoje, com meus 28 anos, na minha situação atual. Talvez o mais extraordinário da vida seja o fato de que, por mais que a gente tente controlar tudo, tem coisas que simplesmente não dependem da gente. E pode ser que num futuro – próximo ou não, quem sabe? – eu mude de ideia. Talvez eu queira voltar ao Brasil. Talvez eu queira explorar novos mundos. Ou talvez a vida se encarregue de nos surpreender com mudanças. 
E morar fora tem muito disso. Apesar de eu querer ficar, há todas as questões que têm a ver com o ser possível ficar. Questões práticas, questões imigratórias, questões sentimentais. Muita gente, no calor do momento, do descontentamento com o Brasil, fala de peito cheio que quer ir embora. Mas ir embora requer muito mais que insatisfação: requer coragem e equilíbrio para lidar com todas as consequências de sua decisão. Como já disse uma amiga querida: a partir do momento em que você mora fora, é preciso lidar com um conflito constante dentro de você. Você está longe, mas quer estar perto das pessoas que deixou no Brasil. Quando está no Brasil, sente falta do lugar que agora ganha o título de seu lar. É uma contradição constante. 
Sem contar aquele sentimento que citei no inicio do texto, de estar eternamente de passagem. Muita gente vai morar fora com aquela intenção despretensiosa, de ver o que vai dar… e vai ficando. Eu passei o primeiro ano aqui assim – evitei adquirir muita coisa, porque me sentia com aquele sentimento de passagem constantemente. “Por que vou decorar minha casa, se não sei quanto tempo ficarei aqui?”. O sentimento de incerteza me perseguia. A princípio, sabia que ficaríamos aqui por 18 meses e que extender esse prazo não dependeria apenas de nós, mas também do próprio sistema de imigração americano – que está um pouco defasado. Felizmente, já sabemos que teremos muito mais tempo em Nova York. Mais do que poderia imaginar. E posso dizer que estou feliz com o rumo que as coisas tomaram e acredito cada vez mais na máxima de que o que é pra ser, vai ser. É clichê, mas algo maior se encarrega de encaixar os rumos. 
Mas, como nem tudo são flores, não é só você que pode estar de passagem. As pessoas ao seu redor também estarão. Minha breve vida aqui em Nova York já foi um borbulhão de fases e sentimentos. Das fases de solidão, de não conhecer ninguém, de não ter uma amiga pra chamar para um café. Das fases de riqueza de momentos, com dias tão intensos e pessoas tão maravilhosas que entram na sua vida de mansinho e, quando você menos percebe, já tomaram um espaço no seu coração. E as fases quando a ficha começa a cair e aquela pessoa legal agora vai voltar pro Brasil, aquela outra está pensando em fazer o mesmo. Porque ou você ou alguém à sua volta vai estar sempre de passagem… 
Eu acho que, em muitos casos, depois que você sai do Brasil, é impossível se sentir em casa novamente por lá. Quando você mora fora, quando você começa a explorar os lugares e percebe o quanto o mundo é grande e incrível, percebe, automaticamente, que a vida é muito curta e o que a gente vai levar dela, no fim das contas, são as experiências. Você conquistou pessoas lá, gente que nunca vai deixar de marcar presença no seu coração. Você vai cativar outras aqui, que também vão ganhar espaço na sua vida. E, no fim das contas, uma hora você vai perceber que não dá pra ter tudo na vida. E que cada escolha depende de renúncias. 
“The world is a book and those who do not travel read only one page.” Saint Augustine of Hippo

3 Comentários

  1. Me permite uma observação? Acredito que pessoas que moram fora do Brasil, que passam a conhecer outras tantas realidades, a desenvolver outra visão de mundo – como você – podem muito bem voltar a se sentir em casa na pátria-mãe sim (claro, após alguns dias de adaptação, hehehe). Só que é diferente, porque a casa já não será o teu mundo. O mundo passa a ser tua casa e tu vais se sentir ok em qualquer lugar pra onde for.

  2. Nossa Laura! quando leio oque você posta fecho os olhos e tento sentir suas palavras, de verdade me coloco em seu lugar e fico imaginando… quando for minha vez hummmm!
    Logo também serei cidadã do mundo!

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