Blog da Laura Peruchi – Tudo sobre Nova York
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Sobre o sonho americano…

Já fazia um tempo que eu queria falar sobre isso aqui no blog, mas precisava fazer de um jeito leve e claro. Estava faltando tempo e inspiração, mas agora, cá estamos. Desde que vim morar em Nova York, tenho recebido muitos e-mails e mensagens de leitoras. Este contato com vocês é mega importante pra mim – e é isso que eu esperava, já que me propus a dividir aqui um pouco do que vivo nesta cidade. Só que o que me motivou a escrever hoje não tem nada a ver com dicas ou roteiros turísticos e sim com um assunto sobre o qual tenho recebido muitos emails: morar nos Estados Unidos. 
Já contei num vídeo um pouco sobre como vim parar aqui e também gravei um bate-papo com meu marido sobre o trabalho por aqui. Eu sei que muita gente tem o sonho de ir embora do Brasil – seja por um tempo ou permanentemente – e daí eu decidi vir aqui bater um papo com vocês a respeito disso e tentar ajudar a esclarecer algumas coisas. 
Vou começar falando por mim: acho que já comentei que desde que me “entendo por gente” eu tinha um sonho de morar fora. Minha vontade sempre foi mais impulsionada pelo desejo de falar inglês. Não lembro de sonhar com um emprego no exterior. Obviamente, a ideia foi amadurecendo e tomou força quando eu comecei a viajar pra fora… daí pintou aquela vontade em mim e no Thiago de morar no exterior. 
Como já contei em outras oportunidades, nada aconteceu por acaso em nossas vidas. Nós fomos pra Buenos Aires em 2011 e acho que foi lá, quando conhecemos o Vinicius e a Pati, um casal que roda o mundo viajando, que o “bichinho” nos mordeu. Os dois percorrem vários países e passam temporadas em cada cidade e tocam o trabalho remotamente – pois planejaram a vida para dar certo assim.  
Quem já viu os vídeos que eu citei anteriormente, sabe como foi nossa história. Resumindo, o Thiago mudou a localização dele no Linkedin para Nova York quando estava aqui a trabalho para medir a febre e sentir como estava o mercado. Daí, começou a receber algumas mensagens com vagas para a cidade. Não foi um processo fácil. Muitas vezes, tudo já esbarrava no fato de ele não ter um visto para trabalho. Para quem não sabe, o governo americano limita o número anual para conceder vistos – sem contar que o processo em si é bem caro e é a empresa que está te contratando que arca com isso.

O que quero dizer, pra ser mais específica, é que nada vem de graça. Ou seja, quem tem esse mesmo sonho e essa mesma vontade precisa ter foco. Dedicar-se, em primeiro lugar, a dominar o idioma e, ao mesmo tempo, esforçar-se para se destacar no meio de tantos. Pense o seguinte: você precisa ser bom o suficiente para uma empresa daqui deixar de contratar um americano – ou outro gringo, porque a competição é com o mundo todo – e contratar você. Sacou?  A gente sabe que o mercado de trabalho é acirrado, então, fazer a diferença, por mínima que seja, sempre é um passo para começar a ganhar o famoso lugar ao sol. E tudo isso também requer planejamento. Nós não decidimos mudar para os EUA num dia e no dia seguinte estávamos aqui. Foi um processo de amadurecimento, de crescimento, que levou mais de 2 anos.
Quero dizer: por mais que fosse fácil acordar, pensar e realizar, as coisas, infelizmente – e como em quase tudo na vida – não funcionam assim. É preciso planejamento, colocar as metas no papel e batalhar para conquistá-las. A gente sempre pesquisou muito sobre o mercado de trabalho no exterior. 
Outro ponto é: quando se trata de um casal, dificilmente os dois vão conseguir uma oportunidade profisisonal no exterior ao mesmo tempo. Ou seja, alguém vai ter que abrir mão de algum aspecto profissional em algum momento. Seja adaptando o trabalho – no meu caso, eu tornei as minhas atividades 100% remotas – seja trocando de área ou até mesmo dando um tempo – o que não significa não fazer nada. Afinal, estudar nunca é desperdício, por exemplo. Além disso, também é bem importante pensar a respeito da cidade para a qual você deseja se mudar: que oportunidades este lugar pode oferecer para os dois? No nosso caso, o plano inicial era tentar algo na Europa, mas como New York tem um excelente mercado na área de TI, assim como na área de moda, isso pesou na nossa decisão. 
Eu já fiz um balanço aqui sobre os 6 primeiros meses vivendo longe e, como eu disse, as coisas nem sempre saem como o planejado. Eu estou tocando o meu trabalho de social media daqui e, ao mesmo tempo, aproveitando todas as oportunidades que esta cidade pode oferecer. Ontem, por exemplo, terminei um curso de Fashion Trend Forecasting, no Fashion Institute of Technology. Também já estou meio que planejando quais serão meus próximos passos. Mas por que eu digo isso? Porque é necessário ter paciência. Eu vim acompanhando o Thiago, mantendo alguns clientes de social media e com expectativas de novas experiências. Porém, as coisas não acontecem do dia pra noite e a gente precisa estar preparado para agarrar uma oportunidade quando ela aparecer. E muito importante: ter perseverança.
Antes de vir pra cá, eu não considero que tinha uma vida ruim no Brasil. Muito pelo contrário: acho que pra cidade que eu vivia, eu tinha um bom padrão de vida, conseguia me virar sozinha e também economizar uma grana. Eu sei que o nosso país tem vários problemas, sim, e nem pretendo entrar nesses méritos ou na parte política da coisa. Mas também não adianta só reclamar, reclamar e reclamar ou só ver o lado ruim. Existem muitos profissionais bem-sucedidos no Brasil. É difícil empreender, é difícil lidar com a realidade da violência ou da falta de outros recursos. Mas também não adianta depositar todas as suas energias no mantra “tenho que ir embora” porque quando você chega aqui, as coisas não são fáceis. O que quero deixar claro é: evitem glamourizar essa coisa de morar fora. Morar fora é vida real, como em qualquer lugar do mundo. Todo mundo rala e batalha. É claro que há diferenças gritantes, sim, porém, no nosso caso, a gente nunca ficou desesperado pra ir embora. Porque quando a coisa parte pra isso, você para de viver. E tem que, pelo menos, aproveitar a vida que tem, não ficar vivendo no “e se eu vivesse nos EUA tudo seria tão melhor…”. Quando você chega nesse ponto, é grande o risco de tomar decisões radicais e/ou precipitadas, por conta da ânsia de querer tudo pra ontem, quando as coisas precisam de tempo! Entendem o que quero dizer?
Outra coisa: a vida aqui acaba sendo um pouco solitária. Você tinha seus amigos e sua família e os programas que costumava fazer com eles e, de repente, chega num país desconhecido e com pessoas desconhecidas. É começar do zero. Em relação a tudo: burocracia, cultura, rotina. E tem que aprender a lidar com a saudade. É um preço que se paga. E, eu digo pelo menos por mim, que muitas vezes dói bastante ficar longe daqueles que amamos. 
Pra fechar, deixo algumas perguntas importantes que você deve fazer para si mesmo se estiver pensando em sair do Brasil:
1. Você já fala inglês? Se ainda não fala, por que? Pode parecer engraçado para muitos, mas é praticamente impossível conseguir um visto de trabalho sem um domínio bom do idioma. Como você vai ser contratado por uma empresa se não se vira no inglês? Como vai fazer uma entrevista? Como vai convencê-los de que é bom? 

2. Em quantos processos seletivos (com muitas entrevistas) você já foi aprovado no Brasil? Se foram poucos, é bom você ir treinando muito bem antes de aplicar para fora.

3. Você tem uma boa reserva financeira? Sem isso, vai ser muito difícil você conseguir se virar nos primeiros meses aqui. E se você não teve como fazer uma reserva mínima de segurança no Brasil, não pense que isso vai magicamente acontecer quando você mudar de país. Nestes casos, na maioria das vezes, o problema não é o país onde você vive e sim você e seus hábitos.
Pra terminar, uma última dica: pesquise, pesquise, pesquise. O Google e o Youtube possuem um acervo infinito de informação. Procure saber a respeito dos tipos de vistos, exigências e todo o processo burocrático que envolve trabalho no exterior. Não espere respostas prontas. Não existem fórmulas mágicas, não há um be-a-bá a ser seguido. É a soma de diversos fatores – e muitos deles vão depender só de você, mas não todos. 

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